O que acontece quando um político quebra as regras não escritas da convivência? | SPE 360

Panorama Político por Carlos Fontes

Foto: Clarisse Mello | Folha de Pernambuco

O que parecia ser apenas mais uma sessão na Câmara Municipal de Olinda foi, na verdade, um exemplo perfeito de como a política local realmente funciona. A rejeição em bloco das propostas da vereadora Eugênia pelos colegas vai muito além de um desentendimento pessoal. A chave para entender essa reação está nos bastidores: a alegação de que a vereadora teria desrespeitado um colega no próprio reduto eleitoral dele.

Esse episódio revela como, na política municipal, as relações pessoais e certos códigos de conduta podem falar mais alto do que as divergências de ideias.

Para um vereador, seu bairro ou região de atuação é mais do que uma área geográfica é sua base de poder, onde constrói sua carreira e seu relacionamento com os eleitores. Criticar outro político dentro de seu "território" é visto como uma declaração de guerra. Não é uma crítica legítima, mas um ataque direto ao seu capital político, uma tentativa de minar sua credibilidade perante quem realmente importa: seus eleitores.

Ao quebrar essa regra não escrita de "não invadir o quintal alheio", a vereadora Eugênia cometeu um erro estratégico grave. A reação que se seguiu não foi por acaso.

A resposta unânime dos outros vereadores em barrar os projetos de Eugênia não foi simplesmente uma vingança, mas um mecanismo de defesa coletiva. Se esse tipo de "canibalismo político" fosse tolerado, qualquer um deles poderia ser o próximo a ter seu trabalho sabotado. A punição exemplar tinha um objetivo claro, mandar um recado forte para restabelecer as regras do jogo. Era uma forma de proteger não apenas o vereador ofendido, mas a integridade política de todos, mostrando que desafiar a ordem estabelecida tem consequências.

E no meio disso tudo, quem perde? A primeira prejudicada é a própria vereadora Eugênia. Seu isolamento político praticamente paralisa seu mandato. Sem diálogo com os pares, sua capacidade de aprovar projetos some, e sua imagem pública pode ser manchada, passando a de alguém conflituoso e incapaz de construir alianças.

No entanto, a maior vítima de todo esse impasse é, sem dúvida, a população. Projetos que poderiam beneficiar a comunidade são barrados não por seu mérito, mas como moeda de troca em um conflito interno. O interesse público fica refém de uma disputa pessoal, e o trabalho legislativo emperra, prejudicando o desenvolvimento da cidade.

O detalhe de que a informação "surgiu nos bastidores" é crucial. Ele mostra que a política real é feita tanto nos corredores e nas conversas informais quanto no plenário. A rápida formação de uma frente única contra a vereadora revela o poder dessas redes informais, que muitas vezes são mais decisivas do que os discursos públicos.

Em resumo, o episódio deixa claro como questões de etiqueta política e relações pessoais podem, infelizmente, se sobrepor ao interesse coletivo. O resultado é uma máquina legislativa paralisada e, no final das contas, os cidadãos que deveriam ser o foco do trabalho dos vereadores acabam esquecidos.